Algumas reformas ortográficas já ocorreram na nossa língua portuguesa.... Mesmo assim, ainda somos capazes de entender, as vezes com a ajuda de um dicionário, o significado das palavras desde aquelas usadas nas cartas de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, até as abreviações inseridas nos emails e e nas redes sociais (twitter, facebook, etc) de jovens admiradores de Cosplay (representação de personagem a caráter).
Pelo conteúdo do texto (vocabulário e estrutura gramatical) podemos identificar o período em que foi escrito e definir sua idade; seu gênero literário (eg: romance, científico); seu sexo: se foi escrito por um homem, por uma mulher ou talvez por um LGBTTTs (acrónimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Simpatizantes); a posição social do escritor, e talvez sua profissão; e claro, seu nível de cultura, de escolaridade e de erudição. Há ainda estudos que apontam o perfil comportamental e psicológico pela análise da grafia de uma pessoa.
Lembro-me durante minha adolescência, quando li, as escondidas, o diário de um amigo(a). Foi quando passei a compreender o porquê que ele, mesmo tendo tudo que um jovem poderia ter na época, era extremamente infeliz. Recordo-me também, de uma carta que encontrei quando eu estava com 37 anos anos, que relatava a difícil situação de saúde e finaceira do meus pais, e onde minha tia distante oferecia ajuda... isso muito me explicou parte da minha história. E ainda, depois da morte da minha avó materna, li alguns trechos de suas anotações diárias, que confirmava sua simplicidade, um caráter inabalável, e um imensurável amor à família!
Imagino o quanto saberíamos sobre os políticos se conseguíssemos ler o que eles escrevem... Será que eles escrevem algo?
Saber dos jogadores de futebol o quanto eles mentem nas suas entrevistas!
Ou, se nós somos o que realmente pensamos ser, se escrevêssemos verdadeiramente nossa autobiografia!
Só para ilustrar o poder da língua, eis a seguir o diálogo entre um ladrão de quintal e Rui Barbosa
A LENDA DE RUI BARBOSA
Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um ruído estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus preciosos patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada, transformando sua massa encefálica em meras cinzas cadavéricas.
E o ladrão, confuso, pergunta: - “Dotô, afinal, eu levo ou deixo os pato?”
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