quinta-feira, 3 de maio de 2012

A língua tem idade, gênero, posição social e nível intelectual



Algumas reformas ortográficas já ocorreram na nossa língua portuguesa.... Mesmo assim, ainda somos capazes de entender, as vezes com a ajuda de um dicionário, o significado das palavras desde aquelas usadas nas cartas de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, até as abreviações inseridas nos emails e e nas redes sociais (twitter, facebook, etc) de jovens admiradores de Cosplay (representação de personagem a caráter).

Pelo conteúdo do texto (vocabulário e estrutura gramatical) podemos identificar o período em que foi escrito e definir sua idade; seu gênero literário (eg: romance, científico); seu sexo: se foi escrito por um homem, por uma mulher ou talvez por um LGBTTTs (acrónimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Simpatizantes); a posição social do escritor, e talvez sua profissão; e claro, seu nível de cultura, de escolaridade e de erudição. Há ainda estudos que apontam o perfil comportamental e psicológico pela análise da grafia de uma pessoa.

Lembro-me durante minha adolescência, quando li, as escondidas, o diário de um amigo(a). Foi quando passei a compreender o porquê que ele, mesmo tendo tudo que um jovem poderia ter na época, era extremamente infeliz. Recordo-me também, de uma carta que encontrei quando eu estava com 37 anos anos, que relatava a difícil situação de saúde e finaceira do meus pais, e onde minha tia distante oferecia ajuda... isso muito me explicou parte da minha história. E ainda, depois da morte da minha avó materna, li alguns trechos de suas anotações diárias, que confirmava sua simplicidade, um caráter inabalável, e um imensurável amor à família!

Imagino o quanto saberíamos sobre os políticos se conseguíssemos ler o que eles escrevem... Será que eles escrevem algo?
Saber dos jogadores de futebol o quanto eles mentem nas suas entrevistas!
Ou, se nós somos o que realmente  pensamos ser, se escrevêssemos verdadeiramente nossa autobiografia!

Só para ilustrar o poder da língua, eis a seguir o diálogo entre um ladrão de quintal e Rui Barbosa

A LENDA DE RUI BARBOSA
Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um ruído estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus preciosos patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada, transformando sua massa encefálica em meras cinzas cadavéricas.
E o ladrão, confuso, pergunta: - “Dotô, afinal, eu levo ou deixo os pato?”


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

No carnaval do Recife, um exemplo de transporte público que funciona!


Em Recife, durante esse Carnaval de 2012, tive a oportunidade de fazer uso do Expresso Folia (http://www.recife.pe.gov.br/2012/02/13/expresso_da_folia_realiza_viagem_inaugural_nesta_terca_180838.php
), uma linha de ônibus que transporta foliões entre os principais shoppings da cidade até o bairro do Recife Antigo, centro da cidade, onde estão os polos da folia.

Transitam nessa linha expressa, ônibus do sistema de transporte público da cidade do Recife, mas com diferenças daqueles que rodam nas linhas da cidade no seu cotidiano. O Expresso Folia é pontual, limpo, barato, seguro, confortável, com seus funcionários e usários em estado de graça (em paz, solicitos). 


Recife não é exemplo de cidade com trânsito tranquilo e organizado. Mas, o Expresso Folia tinha prioridade para trafegar nas avenidas de acesso e nas ruas próximas ao polo de Carnaval. Enquanto os carros formavam um engarrafamento imenso o ônibus tranquilamente passeava, e em menos de 20 minutos o trajeto de cerca de 10 Km era cumprido, isso a um custo de R$ 3,00 ida e volta.

Não era a toa que o Expresso Folia arrancava elogios de todos que dele desfrutaram: "- Parece que estamos na Europa...", "- Desse jeito eu nunca iria de carro para o trabalho...", "- Vou poder tomar meu chopp tranquilo...", "- Só vou em pé se quiser..."Era notório como todos ficavam inconformados com o caos do transporte público no dia-a-dia, dada a realidade proposta pelo Expresso.

As autoridades dizem que o Expresso Folia é um exemplo do que deve acontecer durante a Copa 2014. E a população fica com a certeza de que é possível se ter um serviço descente. Cabe a nós, sociedade civel "ainda desorganizada", saber exigir dos que nos representam no poder público. Claro que isso transpassa diversos setores (saúde, economia, educação, segurança), mas é preciso criarmos a cultura de que o transporte público deve ser utilizado por todos, e não só por aqueles menos favorecidos ou esclarecidos.

Melhorias precisam e devem ser feitas, mas deixo aqui o meu elogio explícito ao Expresso Folia. E que novas idéias como essas tragam uma melhor qualidade de vida para a população.