quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Qual a probabilidade de você receber um falso-positivo após uma doação de sangue?

"O que não pode ser medido não pode ser melhorado...." Não lembro quem é o autor dessa frase, mas a população deveria ter acesso aos índices de acertos e de erros de todos os serviços de saúde quer sejam públicos ou privados desse país.

Vejam o que aconteceu com um usuário (aqui ocultado seu nome verdadeiro, e chamado apenas por "Usuário K"), que periódica e rotineiramente, doa seu sangue, por altruísmo, ao serviço público estadual de coleta sanguínea na cidade onde mora, aqui denominado de "COLETACG".

Depois de 22 (dias) da sua última doação de sangue, o "Usuário K" ao passar perto do serviço "COLETACG", resolve como de costume, pegar o resultado de seu sangue doado, (exame a que é submetido o sangue, antes de ser liberado para salvar vidas, e cujo intuito é detectar DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis): HIV, hepatites, sífilis; e outras Hemopatologias: anemias, leucemias),

Ao chegar no setor de resultados o "Usuário K" tem o seguinte diálogo com a Assistente Social responsável pelas entregas:
- Olá. Vim pegar o resultado, eis meu protocolo. Identifica-se o "Usuário K";
- Um minuto, vou acessar seu cadastro e imprimi-lo para você. Responde a Assistente;
... depois de algumas teclas digitadas e um ENTER, as feições da Assistente mudam e demonstram que algo diferente ocorrera.  Ela pede que K a espere um pouco.

Dois minutos depois, volta com sua Superiora para relatar:
- Seu exame deu uma "alteraçãozinha" e nós não podemos fornecer o resultado até que seja repetido. Fala a funcionária Superiora.
- Que? Que tipo de alteração? Pergunta K, já ávido. Acelera-se sua respiração. Pois, como um não leigo, o "Usuário K" sabia que tal "alteraçãozinha" devia ser algo grave.
As Atendentes insistiam em dizer-lhe que não se preocupasse. Que bastava vim no dia seguinte repetir os exames para poder ter o resultado definitivo com 15 dias depois.

O "Usuário K", com toda razão, explicou:
- Caras senhoras, como usuário desse serviço exijo saber qual alteração ocorreu no meu exame.
- Mas, nós não sabemos, pois o setor de bioquímica não liberou. Explicam as Atendentes.
- Então, deixem-me falar com o chefe da bioquímica Indaga o "Usuário K".
- Impossível. Esse setor não lida com os usuários;

Indignado, o Usuário K,  retirou-se da sala. Ficou a devagar no hall de entrada do serviço "COLETACG". Se fosse para casa, teria que esperar ainda até o outro dia para refazer os exames e sem saber o motivo, e claro que isso não o deixaria tranquilo. Naquele momento não havia nada que conseguisse afastar a intranquilidade sentida pelo "Usuário K".  Era preciso saber o que estava acontecendo com seu sangue.

Lembrou que em todo serviço de Coleta de Sangue, é preciso que se tenha um hematologista para atendimento. Então, procurou saber se poderia falar com o Hematologista de plantão. A resposta veio com uma pergunta:
- Você tem consulta marcada para hoje com o Dr. Salvador Castro?
- Não, mas na verdade eu não quero uma consulta, eu quero apenas falar com ele. Pois, sou muito amigo dele. Mentiu o "Usuário K".

Depois de alguns minutos, o "Usuário K" é chamado ao consultório do Dr. Salvador Castro. Por sorte, o Dr Salvador estudara com o "Usuário K" no ensino médio, e eram amigos dessa época.

K relatou o que acontecera. E foi aí que o Salvador (não mais Dr., pois eram amigos e os protocolos haviam sido deixados), foi identificar o motivo para não liberarem os exames do "Usuário K".

Foram 10 minutos de espera castigantes. As Assistentes Sociais passavam pela porta do consultório, depois mais duas outras pessoas de jaleco branco..... Mas, enfim chagava o Salvador. Chegava com seu sorriso de praxe de outrora, e disse:
Caro K, fique tranquilo, é muito provável que seus exames tenham dado um falso-positivo (quando o exame aponta que o sangue é reagente a alguma doença, mas de fato ele não o é).

Vou explicar a situação:  O serviço COLETACG utiliza 2 tipos de kits para alguns testes de detecção de DST. Um dos que foi adquirido, provavelmente por não estar de acordo com as especificações de qualidade, indicou em vários exames de vários usuários(numa taxa maior que normal) sorologia positiva para HIV e para Hepatite tipo B. Especificamente no seu caso, esse kit problema indica sorologia positiva, enquanto que no outro kit, teoricamente o confiável, sua sorologia está normal, não reagente a nenhuma DST.

O Usuário K, a priori, ficou mais assustado. Pois a palavra HIV e Hepatite B, é doença crônica... mas, agradeceu ao Salvador pela presteza, e pediu encarecidamente a prescrição de exames particulares para que pudesse refazer em um laboratório particular para tirar qualquer dúvida. Prontamente o Salvador atendeu o pedido do amigo K, mas alertou-o que ele teria que refazer os exames no serviço COLETACG, pois seu nome estava negativado. E, enquanto não repetisse os exames no serviço, não poderia ser mais doador de sangue, mesmo  que depois dos resultados dos exames particulares a sorologia fosse negativa.

Quando o "Usuário K" estava se despedindo do Salvador, pergunta:
- Qual a taxa de falsos-positivos que vocês tem em média por dia ou por mês?
- Bem, depende. Depende da empresa que ganha as licitações dos kits, dependem se os kits foram fabricados seguindo as especificações de qualidade, etc....O que posso te falar é que no lote de kits utilizados nos seus exames, pelo menos 50% deram sorologia falso-positiva.

O senhor K, saiu do serviço COLETACG com sensação de que se ele fosse um usuário com pouco conhecimento, sairia dali altamente abalado, sem respostas e pensando em como poderia ter pego uma doença. Mesmo sabendo que não havia motivos para ser um soro positivo, o "Usuário K" estava transtornado, emocionalmente desgastado, e constrangido. E mais, caso se confirmasse a sorologia positiva, provavelmente a teria pego com o cônjuge (considerando que era fiel).... O que poderia acontecer com essa família quando chegasse em casa e relatasse que o exame teria dado uma "alteraçãozinha"?

O "Usuário K", realizou seus exames em um laboartório particular e nenhuma sorologia positiva para HIV ou Hepatite B foi constatada.

Mais que nunca, é preciso que indicadores de acurácia dos exames realizados nesse país sejam disponibilizados para população e que órgãos fiscalizadores auditem constantemente os processos internos desses serviços. Se acontecem os falsos positivos, não seria possível acontecer os falsos-negativos? A probabilidade de se recebr exames com laudos errados é bem possível. Cabe aos usuários, buscarem toda a informação possível sobre a idoneidade das administrações que estão por trás dos balcões de atendimento, na qualidade e na experiência dos profissionais envolvidos.... Mas, se existissem os índices de erros e de acertos nos laudos, facilitaria e muito a organizar e tornar mais responsável o ato de realizar examens e de divulgar os seus resultados.

2 comentários:

Anderson Ledo disse...

Excelente postagem, Katyusco.

Saber desse tipo de informação justifica uma insegurança tremenda com esses serviços. E o efeito social colateral do erro então... =|

Tenho acompanhado algumas postagens aqui. Excelentes.

DeliciaBA disse...

Bom dia, fui vacinado contra a influenza e a febre amarela no dia 11.05.2017 e no dia 27.06.2017 (45 dias após) fui doar sangue, quando fui buscar a carteira de doador a enfermeira disse, que queria conversar e disse que seria preciso devido a alteração reagente ( positivo ) a mesma disse que seria necessário uma nova coleta pra Nova testagem. Já chorei muito e estou desesperado. Qual a probabilidade de ser falso positivo? Desde de já agradeço.